A história da iluminação começa a 400 mil anos A.C., quando o homem descobriu o domínio do fogo. Com essa descoberta, o homem que, durante o dia era predador, deixou de ser presa durante a noite.
O uso da luz como instrumento de segurança para o homem
Em 1879, Thomas Edisonaperfeiçoou a lâmpada de Swan ao usar um filamento de carbono eficiente e um sistema elétrico confiável para comercialização. Esta descoberta, para além da segurança, impulsionou a indústria e a vida noturna, estendendo as horas produtivas.
A iluminação pública, que já era uma realidade com lâmpadas a gás e a querosene, com a primeira lâmpada a energia elétrica, teve um crescimento exponencial em quase todo o mundo.
Nos últimos 150 anos, conforme novas tecnologias, como as lâmpadas de descarga, eram introduzidas, a iluminação pública ia também evoluindo. Para além da segurança de peões, bens e circulação rodoviária, outros objetivos foram introduzidos, como proporcionar interação social, promover ambiências simbólicas e psicológicas e funcionar como linguagem visual.
Para o cidadão e governantes, mais luz era melhor luz!
O processo deixou de ser apenas técnico para ser essencialmente político. A descoberta do LED azul, que rendeu o Prémio Nobel de Física de 2014 a três cientistas japoneses: Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura, veio revolucionar a iluminação pública, tendo sido crucial para o desenvolvimento de fontes/luminárias de luz branca LED mais eficientes.
A iluminação pública com lâmpadas de descarga passou a ser a forma mais visível do dispêndio de energia. O que seria uma inovação, passou a ser uma revolução, onde conceitos de eficiência energética, vulgo payback e lm/W, foram as métricas que basearam a migração maciça até aos dias de hoje.
Contudo, a tecnologia LED trazia outras mudanças à iluminação e, concretamente, à iluminação pública: os efeitos não visuais da luz.
Para isso, muito contribuiu a descoberta da melanopsina, em 1998, pelo cientista Ignacio Provencio e a sua equipa na Universidade Johns Hopkins. A melanopsina, produzida nas células ganglionares da retina dos mamíferos, é uma proteína sensível à luz que desempenha um papel fundamental na regulação do ritmo circadiano e em outras respostas não visuais à luz, como a regulação do sono e da temperatura corporal.
Com a introdução dos efeitos não visuais da luz no projeto de iluminação pública, o processo que é político, tornou-se é também multidisciplinar. Verdade seja dita, que a multidisciplinaridade, principalmente para engenheiros do ambiente e médicos, trouxe para a praça pública um fenómeno pernicioso que tem vindo a crescer há mais de 150 anos: a poluição luminosa e os seus impactos na biodiversidade.
Esta multidisciplinaridade traz consigo desafios à engenharia eletrotécnica e a todos os que gerem sistemas de iluminação pública, formatados para o cálculo, normas e métricas associadas. Agora, eles têm de lidar com outros decisores, para além da classe política no projeto, e, acima de tudo, com o escrutínio de uma população cada vez mais esclarecida. Onde antes, mais luz era melhor luz, hoje há cada vez mais reclamações contra a temperatura de cor, os níveis exagerados, a altura dos pontos luz e a luz intrusiva.
Atualmente e quase diariamente, sou confrontado com pedidos de pareceres a reclamações de cidadãos, que revelam um grau de conhecimento excecional. Por exemplo, há dias, um município deu-me conhecimento de uma reclamação sobre o impacto de luminárias LED 4000 K que, segundo o munícipe, alterou a época em que as suas laranjeiras florescem. Queria que alterassem os pontos de luz para luminárias de vapor de sódio alta pressão!
Em Portugal, pergunto, como se dá resposta a estas reclamações, tendo em conta o quadro legislativo que temos?
Alberto Van Zeller
CPI – Centro Português de Iluminação
Tel.: +351 217 783 469
www.cpiluminacao.pt
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