Quanto consumimos
Para termos uma noção do abastecimento do consumo anual de energia elétrica, observemos os registos dos últimos 14 anos (Figura 1).
![Abastecimento do consumo de eletricidade [2010- 2023] Abastecimento do consumo de eletricidade [2010- 2023]](https://cld.pt/dl/download/bf8ce6d3-1a43-40f8-afa3-ce272e8f8ebd/consumo-eletricidade-2010-2023.webp)
De acordo com a Figura 1, verificamos que as necessidades de energia elétrica do continente variam ligeiramente ao longo do tempo. Contudo, essa variação não é muito significativa. Na realidade, considerando o período em análise, o valor médio anual situa-se nos 49,9 TWh, pelo que os desvios face aos valores extremos verificados em 2010 e em 2020, não são de grande amplitude.
No futuro, e no percurso da descarbonização da economia, com grande destaque para a produção de eletricidade renovável, irá ocorrer um aumento da eletrificação, pelo que irão ser ultrapassados os valores apresentados na Figura 1.
O que consumimos
A eletricidade que consumimos tem três origens distintas: fontes renováveis, fontes não renováveis e saldo importador. Este último resulta do balanço da energia elétrica que importamos com a que exportamos de/para Espanha através das interligações elétricas. Quando o valor é positivo, importamos mais do que exportamos.
Vejamos como tem evoluído o peso de cada componente nos últimos 14 anos.
![Origem do consumo de eletricidade [2010- 2023] Origem do consumo de eletricidade [2010- 2023]](https://cld.pt/dl/download/7b4db505-594e-45b6-80c7-b859b7556bac/origem-consumo-eletricidade.webp)
A Figura 2 mostra que a produção renovável tem sido a predominante, superada pela produção não renovável apenas nos anos 2011, 2012, 2015 e 2017.
Nos anos 2016, 2017 e 2018, o saldo importador foi negativo, isto é, exportámos mais do que importámos através das interligações elétricas com Espanha, pelo que este não entra para o abastecimento do consumo.
Curiosidades
A Tabela 1 apresenta de forma detalhada os registos máximos e mínimos alcançados no período 2010 – 2023. Para além destes dados, identifica-se também o ano, ou um conjunto de anos com características particulares, que podem justificar no todo ou em parte os valores extremos alcançados nesses mesmos anos.
![Eletricidade em Portugal continental - registos máximos e mínimos (GWh) [2010 – 2023] Eletricidade em Portugal continental - registos máximos e mínimos (GWh) [2010 – 2023]](https://cld.pt/dl/download/239c4d99-e4ae-4324-9da5-1b53244c8432/eletricidade-portugal-registos.webp)
A leitura desta Tabela deve ser acompanhada dos dados da Figura 2 e vamos destacar alguns dados em função das considerações que se indicam abaixo.
Em 2010 registou-se simultaneamente o mais elevado consumo de eletricidade e a maior produção de hidroeletricidade. No mesmo ano registaram-se também os valores mínimos da produção solar fotovoltaica e da biomassa. O registo do maior consumo de eletricidade e não mais ultrapassado até à data, surge na sequência do crescimento económico consistente que se registava à época, o qual foi travado pela recessão de 2009 e parcialmente recuperado em 2010. O valor mínimo da produção fotovoltaica é de fácil explicação – só estavam instalados no país 134 MW, valor que tem aumentado anualmente desde então. Neste ano, a produção de eletricidade renovável já superava a produção não renovável (52% contra 43%, Figura 2).
Nos anos da crise da dívida soberana (2011 – 2013), anos de elevada contração económica, resultante da aplicação de medidas para diminuir o elevado peso da dívida pública em percentagem do PIB, registou-se uma diminuição do consumo. Em 2011 registou-se o valor mais baixo de produção eólica. Em 2012 registou-se simultaneamente a mais baixa produção total de eletricidade e também a da componente renovável. Tanto em 2011 como em 2012, a produção de eletricidade não renovável ultrapassou a produção renovável, mas em 2013 a situação inverteu-se (ver Figura 2).
Em 2014 registou-se o valor mínimo de produção de eletricidade, por via do gás natural, e a produção renovável abasteceu 62% do consumo, valor não mais alcançado até à presente data.
Em 2015, ano de seca, que limita fortemente a produção hidroelétrica, e por consequência, a produção de eletricidade renovável, a produção de eletricidade a partir do carvão atingiu o seu registo máximo deste período.
Em 2016 atingiu-se o valor máximo de produção total de eletricidade, que se refletiu num recorde no saldo importador, valor não mais atingido até hoje.
2017, ano seco, registou o maior consumo de gás natural para a produção de eletricidade. Nesse mesmo ano, a produção não renovável registou o seu valor máximo e a produção hídrica o seu valor mínimo.
Em 2019 atingiu-se o valor máximo de produção eólica.
2020 foi marcado pela pandemia COVID-19, que paralisou de forma generalizada toda a atividade económica do país. Este acontecimento foi suficiente para que o país registasse a menor produção total de energia elétrica do período em análise.
Em 2021 atingiu-se o valor máximo da produção elétrica por via da biomassa e o mínimo produzido pelo carvão, não tendo voltado a ser produzida eletricidade a partir deste combustível fóssil.
Em 2022, embora não haja registos de valores máximos ou mínimos, convém referir que esse ano também foi um ano particularmente seco, dando origem à segunda menor produção hidroelétrica que, contudo, foi compensada pelos segundos maiores registos da eólica, fotovoltaico, biomassa e saldo importador.
Em 2023 bateram-se recordesmáximos de produção renovável, solar fotovoltaico e saldo importador, e registos mínimos na produção não renovável.
Os registos de 2023 são particularmente notáveis com grande destaque para o solar fotovoltaico que, em 14 anos, passou de 204 GWh para 3 589 GWh, e em termos de potência instalada, de 134 MW para 3 863 MW. De acordo com os dados mais recentes da REN, a produção solar fotovoltaica em 2024 irá ultrapassar substancialmente o registo de 2023, uma vez que o valor acumulado a agosto do ano corrente já atingiu 3 503 GWh.
Conclusões
O Plano Nacional Energia e Clima 2030 (PNEC 2030) estabelece para o setor elétrico nacional metas ambiciosas que devem ser cumpridas no horizonte 2030, sendo este setor crucial para se alcançar a neutralidade carbónica em 2050, consagrada no Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050.
Os dados mostram um aumento contínuo da potência instalada renovável, fruto de consistentes políticas públicas ocorridas nos últimos anos. Se esta tendência se mantiver, estamos no bom caminho para o cumprimento das metas consagradas no PNEC 2030. Contudo, deve-se considerar a robustez do sistema elétrico nacional quando confrontado com adversidades, como as alterações climáticas (anos mais secos), as incertezas geopolíticas, as de natureza económica e financeira, entre outros. Deve ainda considerar-se a flexibilidade do sistema e a capacidade das redes de incorporarem uma produção 100% renovável em muitos dias do ano.
No passado, nos anos em que a produção hidroelétrica foi baixa devido a secas severas, verificámos que as necessidades de energia elétrica do país eram supridas pela produção de eletricidade baseada no carvão e/ou gás natural. Em anos mais recentes, essa compensação tem sido feita em grande parte (não na totalidade) pelo saldo importador. Sem dúvida que se mitigam as emissões de GEE nacionais, porém, aumenta a nossa dependência energética, indicador que também está consagrado no PNEC 2030, e que se pretende reduzir. Para além disso, a importação de energia de Espanha não é livre de emissões.
A solução para conseguirmos simultaneamente descarbonizar a economia e reduzir a independência energética terá de passar, não só pelo reforço da produção de eletricidade renovável, mas também pela aposta no armazenamento de energia elétrica sem esquecer que a primeira aposta deve ser sempre na eficiência energética. Afinal de contas, a energia mais barata e sustentável é aquela que não consumimos.
António Almeida e Tiago Vicente
Direção de Formação, Informação e Educação
ADENE – Agência para a Energia
Outros artigos relacionados
- Artigo “Consumo de energia: setores doméstico e serviços” da edição 83 da revista “o electricista”;
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Fonte da imagem de destaque: wirestock | Freepik
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