Revista o electricista

balanço energético 2023

Balanço energético 2023

No dia 31 de outubro foi publicado, pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), o Balanço Energético Nacional 2023. No seguimento desta publicação, este artigo analisa de forma sintética a evolução do consumo de energia primária, dependência energética, saldo importador e consumo final de energia, respeitante ao período 2019 – 2023.

Consumo de energia primária

Como se pode observar na Figura 1, o consumo de energia desceu abruptamente (7,4%) em 2020, consequência da pandemia COVID-19. Nos anos seguintes registou-se uma recuperação da atividade económica e, consequentemente, também do consumo de energia, atingindo o valor de 21 315 ktep em 2022. Já em 2023 observou-se uma nova queda, descendo 3,3% relativamente a 2022.

Durante o período em análise é de salientar que:

  • O consumo de carvão desapareceu quase na totalidade, sendo atualmente consumido apenas residualmente em algumas indústrias transformadoras;
  • Aumentou o consumo primário de eletricidade referente às energias renováveis (hídrica, eólica e solar na sua grande maioria);
  • O consumo de gás natural desceu devido ao cada vez menor uso desta forma de energia na cogeração e na produção de eletricidade;
  • O petróleo e os seus derivados continuam a representar mais de 40% do consumo de energia primária em Portugal.
Consumo de energia primária.
Figura 1. Consumo de energia primária.

Dependência energética

Em 2020, ano da pandemia, a dependência energética atingiu o valor mais baixo desde que há registo (65,8%). Com a retoma da atividade económica registada em 2021 e consolidada em 2022, a tendência deste indicador foi novamente de crescimento. Já em 2023, registou-se uma nova descida, fixando-se em 66,7%. Será necessário esperar pelos próximos anos para perceber se a tendência de descida se manterá. A meta estabelecida no Plano Nacional Energia e Clima (PNEC 2030) é de 65%.

Dependência energética.
Figura 2. Dependência energética.

Consumo de energia final

O consumo de energia final em 2023 aumentou 1,9% em relação a 2022, ultrapassando até o valor registado em 2019. O contexto de inflação alta e consequente agravamento do poder de compra que vivemos, parece não ter afetado o consumo de energia. Vejamos mais ao pormenor, olhando para cada setor de atividade.

Os setores dos transportes, serviços, e agricultura e pescas aumentaram o consumo de energia face ao ano anterior (5,9%, 6,4% e 4,3%, respetivamente). Por outro lado, a indústria registou uma descida de 4,0%. O consumo no setor residencial diminuiu muito ligeiramente (0,5%).

Evolução do consumo de energia final por setor.
Figura 3. Evolução do consumo de energia final por setor.

Historicamente, o setor dos transportes tem sido o maior consumidor, e o ano 2023 não foi exceção. De facto, a repartição do consumo de energia final por setor em 2023 é muito semelhante ao de 2019, como se observa na Figura 4.

O setor dos transportes foi responsável por 37% do consumo, seguido da indústria (28%), doméstico (17%), serviços (15%) e agricultura e pescas (3%). Se juntarmos os setores dos serviços e doméstico, observamos que os edifícios são responsáveis por 32% do consumo, só ultrapassados pelo setor dos transportes.

Consumo de energia final por setor (2019 e 2023).
Figura 4. Consumo de energia final por setor (2019 e 2023).

Conclusão

Os valores do balanço energético 2023 mostram-nos que Portugal continua muito dependente dos combustíveis fósseis, particularmente no que diz respeito ao setor dos transportes.

A preponderância da eletricidade tem vindo a aumentar (em 2019 representou 12% do consumo final, subindo para 14,6% em 2022 e 18,2% em 2023), o que aponta para uma crescente eletrificação dos consumos.

O balanço energético mostra-nos ainda uma dependência energética elevada, mas com valores próximos de cumprir a meta estabelecida no PNEC 2030.

Tiago Vicente
Coordenador de Informação e Educação

ADENE – Agência para a Energia
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